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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Vitor Martins: Um beijo para a homofobia

           Nos próximos dias, em horário nobre, poderemos ter o primeiro beijo gay no roteiro da novela  Amor à Vida da Rede Globo, a maior emissora televisiva do país. A possibilidade do ato acontecer ganhou bastante apoio recentemente pelos telespectadores que massificaram os pedidos nas redes sociais para que Félix (Matheus Solano) e Niko (Thiago Fragoso) beijem-se logo e o diretor recebeu carta branca da emissora para colocar o beijo na trama.

          De fato, os meios de comunicação e entretenimento são  instrumentos para a construção de valores éticos e morais e podem influenciar  como também propor debates contemporâneos para a sociedade, como o caso em questão. A interferência desses meios no cotidiano das pessoas é muito intensa. Certamente todos já devemos ter passado por algum momento em algum lugar de  convívio social, seja ele escola, trabalho, etc. em que comentamos algo que vimos na televisão no dia anterior. Isso acontece porque tanto a televisão, como o rádio, o computador, são indispensáveis para o acesso à informação, a ponto de concebermo-los como utensílios domésticos. Assim, uma diversidade – mas nem tanta, visto que é existente no Brasil um monopólio midiático que oprime sim a liberdade de imprensa - de notícias chega a todas as regiões do país diariamente, e mais importante ainda, dentro de casa. Se pensarmos em algo que abranja, no sentido de dar cobertura, uma sociedade por completo, provavelmente não iremos encontrar nada tão eficaz quanto são esses meios.  Embora a trama da novela desenvolva um personagem gay que para ganhar a aceitação do público teve de tornar-se engraçado e ter seus bordões, que são meras representações dos estereótipos que criamos em relação @s LGBT, o possível beijo gay em Amor à Vida é uma forma de combate a homofobia e faz parte da luta do nosso movimento. Acreditamos que o beijo gay em horário nobre nas redes televisivas é um forte instrumento para a naturalização, pois só tornamos alguma ação natural quando a vimos e percebemos suas reproduções constantemente, e integração d@s LGBT na sociedade - porque extrapola as margens de qualquer pessoa somente identificar-se como gay, expondo assim suas maneiras de agir e seu comportamento. Esse fato por si só já representa um grande avanço para o entendimento da diversidade sexual, pois coloca em debate e à prova o estranhamento – porta de entrada para o preconceito, que a sociedade brasileira ainda possui em relação aos relacionamentos homossexuais. E para além disso, embora a luta contra a homofobia seja muito forte, temos a consciência de que nada atinge tão profundamente os valores e a formação de opiniões das famílias brasileiras quanto as emissoras de televisão.

               Lutar pelo beijo gay em horário nobre é lutar por todas as formas de amar e para que todas essas sejam respeitadas e que não sejam elementos para julgamento de valor de qualquer ser, seja qual for sua orientação sexual. Talvez  essa estória tenha um final feliz e com uma riquíssima lição de moral ao nosso povo.

  #BeijaLogo    #BeijoGayEmHorárioNobreSim     #AgregaValoraTVBrasileira


 *Vitor Martins é estudante de ciências sociais da UFRGS e coordenador do coletivo LGBT da UJS de Porto Alegre

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Nota de esclarecimento: das universidades aos shoppings, estamos dando nosso rolezinho

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A União da Juventude Socialista (UJS) vem a público denunciar as inverdades escritas pelo jornalista Políbio Braga no artigo “Bella Dias e seu 19 seguidores irrefletidos promovem rolezinho caviar no Moinhos Shopping“.
Participamos do rolezinho, movimento que tem ocorrido em todo país, porque defendemos a liberdade dos jovens, independente de sua classe social, em  entrar em espaços como os shoppings centers sem sofrerem discriminação.
Lucas Bernardes não tem cargo comissionado (cc) na assembléia legislativa do Rio Grande do Sul. Lucas é estagiário  da bancada do PCdoB na assembléia legislativa e recebe um salário de pouco mais de 600 reais.
Comprovante de estágio de Lucas Bernardes
Comprovante de estágio
Isabela Dias trabalha na recepção da assembleia legislativa como estagiária e nos finais de semana trabalha num parque aquático e por isso, ao contrário do que afirma o “jornalista”, Isabela não esteve presente no rolezinho. Seu estágio na ALERGS não tem nenhuma relação com qualquer deputado. Isabela concorreu ao cargo de estagiária através de um programa da assembleia legislativa do rio Grande do Sul.
Lucas Bernardes, Isabela Dias e Dora Dias, todos citados no artigo, são bolsista da PUC pelo Prouni. Lucas e Isabela estudam relações públicas e Dora é estudante de direito.
Graças a luta da UJS e do movimento estudantil, que conquistou o programa universidade para todos (Prouni), os três estão cursando o ensino superior com 100% de isenção nas mensalidades. O Prouni e as cotas foram nosso primeiro rolezinho, enfrentamos o preconceito e entramos onde somente os ricos podiam entrar.
O jornalista comete uma grave irresponsabilidade, além de escrever inverdades, colocou fotos e o link para os perfis dos militantes da UJS no facebook. Como quem sugere que seus leitores acessem os perfis de Lucas, Isabella e Dora para lhe ofenderem diretamente.
Políbio representa muito bem o interesses de setores da sociedade que entraram na justiça contra o Prouni e as cotas raciais. Pessoas como Políbio não suportam a ideia de dividir espaços  com os mais pobres. Mas, assim como entramos em universidades, públicas e privadas, que só os ricos entravam, vamos entrar nos shoppings também, em defesa da liberdade de ir e vir, sem ser discriminado pela cor da pele  ou por quanto carrega na carteira.
O próximo rolezinho já está marcado, será dia 24 (sexta feira) às 17h00 no Barra Shoping, zona sul de Porto alegre, participem!
Acesse o evento no facebook: Rolezinho no Barra com batalha do passinho

domingo, 19 de janeiro de 2014

Durante rolezinho em shopping de Porto Alegre, jovens cantam e dançam funk

Foto: Camila Hermes / Especial



rolezinho programado para ocorrer no Moinhos Shopping, acompanhado pela imprensa e aos olhos dos seguranças do shopping, e pela presença da Brigada Militar pelo lado de fora do estabelecimento, começou com atraso. Um dos organizadores e criador do evento Rolezinho Moinhos Shopping Porto Alegre no Facebook, Fábio Fleck, estudante de Análise de Sistemas, recebeu um documento chamado interdito proibitório. Em caso de prejuízos durante o evento, teria de responder judicialmente e pagar R$ 150 mil.
— Vamos entrar mesmo assim — afirmou.
De acordo com o conselheiro tutelar Cristiano Aristimunha Pinto, o conselho recebeu, nos últimos dias, mais de 20 ligações de moradores de bairros no entorno do Moinhos Shopping pedindo que eles impedissem a entrada de "maloqueiros" no estabelecimento, o que deixou o conselheiro estarrecido.
— Sempre houve o rolezinho. É uma forma de a juventude buscar o seu espaço — disse o conselheiro, enquanto acompanhava a manifestação.
A rotina do shopping foi alterada. Os frequentadores observavam, com curiosidade, a movimentação. Vendedores de algumas lojas observavam com apreensão. Durante o rolê, os jovens entraram em algumas lojas, se divertiram, cantaram o Rap da Felicidade ("Eu só quero é ser feliz/andar tranquilamente na favela onde eu nasci") e até dançaram o funk do "quadradinho de oito".
Fonte: Zero Hora

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Leonardo Silveira: Rolezinho não é novidade




Mídia quer atmosfera explosiva para criar novo junho

O ano mal começou e já se revela surpreendente, em meados do início de janeiro de qualquer ano comum o noticiário seria dominado por notícias sobre o veraneio nas praias do litoral brasileiro, diante da tradicional apatia política do período. Ocorre que 2014 não é um ano comum.

O fato é que em um piscar de olhos, a sociedade brasileira encontra-se debruçada na discussão sobre o fenômeno do rolezinho. Na academia, nas redes sociais, nos jornais, nas ruas, nos poderes legislativo, judiciário e executivo o assunto dominante é o mesmo: qual a motivação que tem levado centenas de jovens adeptos do estilo funk a ocuparem os shoppings centers (templo do consumo), as consequências e o significado disto.

O desejo pelo consumo de produtos de grifes tradicionais, a mobilidade e ascensão social da classe trabalhadora, a completa ausência de espaços públicos adequados para o lazer, e de políticas públicas para a juventude são prováveis causas para este fenômeno social. A reação preconceituosa da sociedade e repressão violenta da polícia militar são consequências terríveis, mas infelizmente normais para uma sociedade fundada nos marcos da desigualdade e do racismo.

De 2006 a 2010 a onda dos “bondes” tomou conta da juventude de Porto Alegre. Estes grupos de jovens levaram a denominação de “bonde” por ser inspirado nas quadrilhas do tráfico de drogas cantadas pelo funk carioca. Identificavam-se pelas roupas de marcas como Nike e Adidas, e formavam grupos maiores unindo-se a outros bondes da mesma área territorial da cidade. Sua principal ferramenta de organização era a internet, onde através do Orkut convocavam encontros entre grupos nos shoppings da cidade.

Ocorre que em outras capitais do país os bondes, rolezinhos, ou simplesmente encontros de adolescentes adeptos do funk em shoppings não é algo que surgiu agora, embora a ascensão do funk ostentação tenha mudado um pouco o perfil destes grupos. A questão é porque então só agora isso veio à tona com esta força?

A novidade está na intensa e completa cobertura da grande mídia sobre este fenômeno. Cenas da repressão policial em horário nobre de televisão, capa de jornal, grandes matérias sobre o assunto, comentários de âncoras nos diversos meios de comunicação explicam a enorme proporção que a coisa tomou.

Para entender o motivo de tamanha cobertura midiática é preciso relembrar o papel da mídia nas manifestações de junho de 2013. No Jornal da Globo de 12 de junho de 2013, Arnaldo Jabor declarou que os manifestantes eram “revoltosos de classe média que não valem nem 0,20 centavos”. Seis dias depois o mesmo Arnaldo Jabor diz a CBN que errou, que o movimento “expandiu-se como uma força política original” e na maior cara de pau tenta inserir pauta e sentido ao movimento das ruas: “não basta lutar genericamente contra a corrupção, há que se deter em fatos singulares e exemplares, como a terrível ameaça da PEC 37... Por que o PAC não andou? Por que aeroportos, rodovias e ferrovias estão podres e sem concessões resolvidas. Por que as obras do Rio São Francisco estão secas? Por que as obras públicas custam o dobro dos orçamentos? Por que a inflação está voltando? Por que a infraestrutura do país está destruída? Por quê? E por aí vai, amigos ouvintes. Por quê? Por quê? O Passe Livre pode nos ajudar a responder essas perguntas”.

O que levou Jabor a mudar de ideia foi a oportunidade que a mídia viu em pautar um movimento que ganhou proporções gigantescas após a noite de 13 de junho com a sangrenta repressão aos manifestantes por parte da polícia militar de São Paulo (que serviu como lenha na fogueira) e tentar explicitamente colocar a massa das ruas para desestabilizar o governo federal.

Diante da estabilidade econômica do país, dos altos índices de aprovação do governo, e da ausência de notoriedade da oposição, a reeleição de Dilma Rousseff é fato praticamente consumado, exceto se algo extraordinário de proporção gigantesca acontecer: um novo junho em meio a Copa do Mundo por exemplo.

Os rolezinhos para os lojistas e donos dos shoppings significam tumulto e insegurança (pois pensam como senhores de engenho e não como empreendedores), para os adolescentes que participam são apenas zoeira e diversão, mas para os interesses das grandes oligarquias midiáticas (PIG) é a oportunidade de criar uma atmosfera de tensão no país, inflamar protestos, instigar a violência, declarar a insegurança e instalar o caos político e social durante Copa (período de pré-campanha eleitoral). E aí “Uma fagulha pode incendiar uma pradaria” (Mao Tse-Tung).

A colunista da Folha de São Paulo e comentarista da Globo News Eliane Cantanhêde (aquela do partido da massa cheirosa) avalia em sua coluna de 14 de janeiro que os rolezinhos vão longe e que será em vão a tentativa de freia-los, diz “Não vai dar certo” e ainda sugere “E a Copa vem aí”. Já o editor de “Cotidiano” da Folha de São Paulo Alan Gripp vai mais longe e traça a estratégia do movimento: “O ponto é que os rolezinhos ganharão escala nacional se distanciando do seu real significado e se aproximando das manifestações de rua do ano passado”, convoca adesão “O bonde do role será formado por estudantes universitários, militantes de organizações sociais, simpatizantes de partidos de esquerda, entre outros grupos – o terror dos empresários é a adesão dos Black blocs”, e ainda sugere a palavra de ordem “somos todos rolezinho”.

Estes jovens querem apenas alegria e diversão, mas mesmo que não saibam estão envolvidos em uma grande batalha política, em um ano onde está em jogo nada menos do que a presidência da república. Nada nem ninguém escapa da disputa de poder.


*Leonardo Silveira é diretor de Políticas Públicas para a Juventude da direção estadual da UJS-RS e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Rio Grande do Sul.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Manuela D’Ávila: “Não quero ser um novo homem. Não foi pra isso que lutei”


Única mulher a liderar a bancada de um partido em Brasília, ela foi a vereadora mais jovem da história de Porto Alegre e a deputada federal mais votada do Rio Grande do Sul. Às vésperas de completar uma década de vida pública e de se despedir do Congresso, Manuela continua sendo desrespeitada pelos colegas. No mês passado, um deles a acusou de não pensar com a cabeça, mas com o coração, numa tentativa de constrangê-la pelo antigo namoro com o ministro da justiça, José Eduardo Cardozo. Aqui, ela fala porque não aceita esse tipo de machismo, da paixão pelo novo marido e da decisão de deixar a capital federal
Indignação, raiva, cansaço. Foi isso que a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB/RS), 32 anos, sentiu na tarde do dia 4 de dezembro, no meio de um longo dia de trabalho, em Brasília. Na Câmara, ela comentava a investigação sobre corrupção no estado de São Paulo – onde governos do PSDB, as empresas de trem e metrô e o grupo Siemens são acusados de formação de cartel – quando foi provocada pelo deputado Duarte Nogueira (PSDB/SP). “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, disse ele, insinuando que Manuela defendia, na verdade, seu ex, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (PT/SP), que estava na Câmara para explicar sua conduta na investigação.
Os tucanos acusam Cardozo de usar o poder para prejudicá-los. “Que despolitizado, vossa excelência! Despolitizado e machista!”, a gaúcha retrucou, e dali se seguiu um grande bate-boca que parou a sessão. Um vídeo feito no mesmo dia viralizou na internet. Nele, Manuela “depena” o colega Duarte e mostra que aquele “não é um fato isolado”. Faz parte de uma cultura machista, que acompanhou a deputada nos seus nove anos de vida pública. Manuela foi a vereadora mais jovem da história de Porto Alegre e a deputada mais votada do Rio Grande do Sul nas duas vezes em que concorreu. Mesmo assim, gastou bastante tempo tendo que provar o seu valor. O fato de ser jovem e bonita – foi apelidada de “musa do Congresso” – piorou ainda mais o machismo. “Tem momentos que te dá vontade de ir embora”, desabafa. Este ano, ela de fato vai embora de Brasília. Diz que quer mudar de vida para fazer política local e morar com o marido, o músico Duca Leindecker, com quem está há pouco mais de um ano. É falando dele que Manuela se derrete. “Não quero ser um novo homem. Não foi pra isso que lutei.” É a voz de um novo feminismo falando, que consegue endurecer sem perder a ternura. Em entrevista num café de Porto Alegre, ela relembrou a infância meio nômade, quando a mãe, juíza, tinha que se mudar com frequência. Falou da força que tirou dessa casa matriarcal, com três irmãs e um irmão, e relembrou o embate na Câmara de que se despede agora.

MARIE CLAIRE: Por que a reação tão inflamada ao comentário do deputado Duarte Nogueira?
MANUELA D’ÁVILA: Aquilo acionou meu dispositivo da defesa mais profundo, que tem a ver com minha trajetória [de luta contra o machismo]. Não posso deixar que coloquem em xeque meus nove anos de vida pública ou meus quinze de militância política. Fiquei indignada de ouvir aquilo, como se eu tivesse que provar alguma coisa para alguém. Os homens não têm que provar o que eles são. Já nós, mulheres, temos que fazer isso o tempo todo, mesmo quando não estamos a fim. É cansativo. Dá vontade de ir embora. Mas estou na política porque quero mudar o mundo. Tem mulheres que apanham por causa desse tipo de pensamento. O filho escuta e acha que as mulheres não valem nada. Temos uma sociedade doente, que ainda extermina mulheres. O que meu colega fez comigo não foi bater numa mulher, é evidente. Mas também não foi só uma piadinha infeliz. Foi o máximo de machismo que alguém pode cometer com uma igual num ambiente de trabalho.
MC: O machismo em Brasília diminuiu desde que você chegou ao Congresso?
MD: A gente tem uma presidenta da república e várias ministras mulheres. Na prática e na marra, as coisas melhoraram. Mas eu ainda sou a única líder mulher de um partido. Brasília é um espaço de homem.
MC: Isso dificultou sua vida?
MD: Semana passada [a do debate com o deputado Duarte Nogueira] foi muito difícil. Ouvi de algumas pessoas: “Ah, mas o vídeo tem mais de 100 mil views”. Preferia que ele não existisse! Aquilo não é uma novela. Sou eu quem estava lá! Não estou em Brasília para ser vítima de machismo. Deletaria todos aqueles views para não sentir aquilo de novo. Já me emocionei por coisas boas como a devolução dos mandatos comunistas que foram cassados pela ditadura de 1948. Mas não me lembro de ter ficado tão emocionada por uma coisa ruim como essa.
MC: O episódio do Duarte Nogueira foi o pior insulto que já recebeu no trabalho?
MD: Não sei… Já fizeram muitas matérias me chamando de musa da Câmara. Era uma forma de me menosprezar. Essa é a mais recente, apenas.
MC: Por que o namoro com o Zé Eduardo sempre volta à tona?
MD: Porque ele era o protagonista do episódio [Cardozo foi à Câmara falar sobre sua conduta na investigação do cartel da Siemens. Ele é acusado de iniciar uma investigação tendenciosa e vazar informações à imprensa para prejudicar o PSDB]. Todo o tempo em que eu estava discutindo política, ele [o deputado Duarte Nogueira (PSDB/SP)] pensava: “Ah, ela está discutindo política aqui porque namorou o ministro”. Na cabeça dele, só posso fazer política porque namorei um ministro.
MC: Algumas feministas confundem gentileza com machismo, proibindo, por exemplo, que lhe abram a porta do carro. Você é assim?
MD: Não gosto de dogmas, eles são burros. Deixo que abram a porta, sim. Eu também abro a porta pra uma galera. Mas sou meio militante da divisão de despesas. Isso é típico da mulher independente da minha geração: divido 100% das despesas, faço tudo na ponta do lápis. Divido tudo no casamento, com amigos, irmãos…
MC: Acha que o aplicativo Lulu, no qual as mulheres dão notas aos homens, é revanchismo?
MD: Não revanchismo, mas sinal de uma liberação que gera um igual no que há de pior. Eu não lutei pra sentar na mesa do bar e me orgulhar de que eu tenho outros quatro homens. Sempre achei horroroso ver um cara se gabar porque coleciona ou engana mulheres.
MC: Estamos perto de ter um deputado homem que coloque o aborto na pauta?
MD: O Jean [Wyllys] põe. Os homens da nossa bancada colocam.Mas não, não estamos perto.
MC: Então ainda é um papel das mulheres. Na sua opinião, por que o aborto tem que deixar de ser crime?
MD: Porque a ilegalidade do aborto mata milhares de mulheres no Brasil e as coloca na ilegalidade. Coloca as mulheres como criminosas.
MC: Por que não quer mais ficar em Brasília?
MD: Passei por uma reflexão pessoal: quero voltar a viver na minha cidade, que é Porto Alegre. Quero estar mais próxima dos movimentos sociais. Alguns dizem ‘Ah, boba, tu é a mais votada’. Mas não quero acumular poder, poder, poder. Posso morar na minha cidade? Posso ser mais feliz com meu marido? Há 10 anos eu viajo um monte e agora não quero mais. É crime eu querer ser mais feliz e também fazer política? Acho que dá pra conciliar.
MC: Qual foi o momento mais difícil da sua vida pública?
MD: É difícil fazer campanha doente, estar na rua sem dormir, triste, sem vontade. Mas o dia mais difícil da minha vida pública foi quando um cara disse que não votaria em mim porque eu estava em Porto Alegre num dia de semana. Eu tinha viajado para enterrar a minha avó, que tinha acabado de morrer. Isso me quebrou por dentro. Foi quando vi que as pessoas não estão nem aí pra ti na vida pública.
Fonte: Marie Claire